A doutrina espírita elucida que a Terra é um planeta inferior porque os espíritos que a habitam ainda são inferiores. Mas há um processo natural de evolução e nós deixaremos de ser um mundo de provas e expiações para nos tornarmos um mundo de regeneração. O que a Bíblia refere o reino dos céus. Então, está havendo mudanças. Mudanças de natureza sociológica, econômica. Grandes países cedem lugar a outros, para haver essa mudança de objetivos evolutivos. Enquanto o planeta também estertora e deixa aquelas fases mais agressivas para tornar-se um mundo melhor. Neste mundo do porvir, que está descrito no Evangelho de Jesus. Por exemplo, em Marcos no capítulo XIII, versículos 1-33, fala-se de uma nova era. E Allan Kardec estuda que no porvir virão espíritos nobres para que a Terra seja superior e as pessoas, felizes.

Poderia se dizer então que está é a visão espírita do juízo final?
Sem dúvida. Sendo que esse juízo final não é terminante, destrutivo. Toda vez quando nós desencarnamos, a nossa consciência desperta. É o autojulgamento. É o juízo final daquela etapa. Então, o fim do mundo seria o fim do mundo moral inferior. Do mundo moral negativo. Deste mundo moral de agressividade e de desgraças, que tanto nos fazem infelizes.

Porque o homem está tão infeliz numa época onde estamos cercados de tanta possibilidade de conforto e felicidade?
Por causa do egoísmo. Allan Kardec estabeleceu que o egoísmo é um câncer da sociedade. E nós somos vítimas destes atavismos, as nossas heranças ancestrais, os nossos arquétipos de que o poder deve estar em nossa mão. De que o Eu prevalece sobre o self, e de que a mim tudo deve ser concedido em detrimento do outro. Enquanto não mudarmos esta filosofia de vida, haverá muito sofrimento na Terra.

Neste sentido, na visão do senhor, qual a primeira obrigação do cristão em dias tão atribulados e competitivos?
Amar, sob todos os aspectos. Auto amar-se. Não se permitir fazer às ocultas o que não é capaz de fazer de público. Isso é o auto amor. Preservar o corpo, respeitá-lo. Evitar os vícios dissolventes. Para depois amar ao seu próximo e naturalmente amar a Deus. Um segundo item seria: não faça a outrem o que você não gostaria que outrem lhe fizesse. Se nós conseguirmos esses dois propósitos filosóficos, o mundo se torna melhor porque nós seremos mais felizes.

O Espiritismo já tem mais de 150 anos, porque a ciência ainda não provou a existência do espírito?
Várias áreas da Ciência já provaram. Quando nós falamos “a ciência”, ela não existe. A ciência são os cientistas. Um grande número de cientistas, como o professor Charles Richet, que recebeu o prêmio Nobel de fisiologia, que criou a ciência metapsíquica, provou à saciedade. Outros negam, como em todas as áreas. Nós vemos, por exemplo, quando é lançado um projeto de pesquisa científica e logo aparece alguém que discorda. É da natureza humana. Mas os fatos mediúnicos estão comprovados largamente por experimentadores totalmente dedicados à investigação científica.

Os espíritas são conhecidos por inúmeros trabalhos em prol da caridade. Na medida em a sociedade melhora sua condição social e alcança a justiça social, qual o sentido deste tipo de assistência?
A caridade na Terra, no Brasil, ainda nos leva a dar sopa por causa das injustiças sociais. A abrir lares para as crianças abandonadas. Numa sociedade justa, em alguns países socialistas, na Noruega onde não existe a pobreza - eu estive em Dubai. Não existe pobreza, não há mendigos - o Estado se encarrega de a todos atender. Quando chegarmos a este nível, a caridade passa a ser moral, que é muito mais importante. Nós vemos pessoas vítimas do alcoolismo, das drogas ilícitas, dos grandes conflitos morais. Então, a grande caridade é o perdão, a educação. Instruir o indivíduo a que abandone determinadas situações deploráveis. Ter paciência, ajudá-lo. Caminhar com ele mil passos quando ele pedir quinhentos.

O senhor tem uma venda significativa de livros, CDs e DVDs. Para onde se destina o dinheiro arrecadado com estas vendas?
Todo e qualquer trabalho por meu intermédio, na lucidez ou na mediunidade, é oferecido em cartório a instituições sociais. Alguns deles para a Mansão do Caminho, mais 12 instituições, incluindo a Federação Espírita Brasileira. E nos países onde os livros são traduzidos, para instituições de caridade locais. Nós, os médiuns espíritas, não recebemos nada. Vivemos para a doutrina com grande amor.

Após a morte de Chico Xavier, o Espiritismo está órfão?
Não. Porque outros vieram, não para o seu lugar porque não existem substitutos. Existem atividades típicas de cada indivíduo e das necessidades. Então, hoje temos uma floração de médiuns muito bela em toda parte porque a linguagem é universal. Ele foi o modelo, como o apóstolo que vai caminhando à frente e vai deixando pegadas luminosas para os que chegando depois possam fazer aquilo que ele fez. E, se não lograrmos o seu nível, fazermos o melhor ao nosso alcance.

O senhor se incomoda em ser visto como seu substituto?
Incomodo-me, porque não corresponde à realidade. Ninguém substitui a ninguém e Chico Xavier é hors-concours, por tudo quanto ele representa. Nós outros somos trabalhadores, formamos os tijolos do edifício da fraternidade sob o comando do divino arquiteto, que é Jesus.

Divaldo, a que se deve tanto vigor aos 85 anos de idade?
Às bênçãos de Jesus. Porque eu dediquei a minha vida ao trabalho da doutrina espírita desde muito jovem. Consegui evitar os vícios destrutivos: o tabaco, o álcool, as drogas ilícitas. Mantendo quanto possível uma vida saudável. É natural que o organismo assimilou essas energias e dá-me realmente muito vigor.

Uma mensagem final...
Minha mensagem de paz, de esperança. De nunca revidar o mal com o mal. Na Terra, todos nós temos inimigos, mas é natural. O importante é não ser inimigo de ninguém. Se nós não formos inimigos de ninguém, estaremos em paz. Desta maneira, a nossa mensagem é: seja você quem disputa a honra de amar. Porque quando nós amamos, nós somos plenos. Quando nós queremos ser amados, nós somos crianças psicológicas.