domingo, 25 de outubro de 2009

A "pedra! do Caminho

Era quase noite em Jerusalém.
A fome me corroia as entranhas,
Meu olhar era sangue,
E as chagas de uma lepra fétida
Faziam de minhas fezes
Algo menos repugnante que eu.

Percorri os vales noturnos
E as estradas desertas...
Angústia certa. Solidão decretada.
Degredo forçado
Na monstruosidade medonha
De minha face putrefata.

Com o rosto recoberto
A um pastor questionei:
- “Senhor, onde fica a casa do Caminho?”
Ele, gentilmente, apontou-me a crepuscular direção
E segui cabisbaixo
Sem vislumbrar o poente.

Noite alta.
Bati à porta de um humilde casebre:
Telhados gastos de chuva,
Estragos por toda a fachada...
Atendeu-me um senhor de olhar cansado e brilhante,
E, para meu espanto primeiro,
Ele não repugnou-se de mim.

Convidou-me a entrar,
Deu-me água e comida e,
Com um tecido de um brancor reluzente,
Limpou-me a face purulenta.
Sorriu. Convidou-me a descansar um pouco,
Mas, ansioso que estava, não conseguira dormir.
Passou, então, a contar-me a história de um “Caminho”
Que ele por três vezes renegado teria.

- “Meu nome é Pedro”, ele disse.
“E fui chamado a ser pedra
Sobre a qual muitas pedras outras
Ainda repousarão.
Reclina-te sobre mim. Firma-te.”

“Mostrar-te-ei que a Verdade do Cristo,
É capaz de fazer dessas cruas chagas
As asas que a tua liberdade assiste
Enquanto navegas nas vagas eternas
Do Amor infinito”.

Nara Rúbia Ribeiro
(Escrito 24/10/09)